“Como Delegado de Polícia, analisei nas entrelinhas a suposta canção entoada por Janja, investigando se a palavra ‘sal’ carrega apenas simbolismo… ou uma mensagem velada contra o ex-presidente.”
Confesso que fiquei ponderando se iria escrever sobre esse assunto porque entendo que não devo dar “palco” para quem não merece, salvo se existir algum dado positivo que supere esse lado de dar visibilidade, uma certa atenção, a determinada pessoa e cheguei à conclusão de que é o caso. As pessoas de bem precisam ser informadas sobre as incoerências e contradições nas palavras e posicionamentos políticos de algumas pessoas.
Quase fui surpreendido por uma dancinha e música de gostos duvidosos nas redes sociais, fui verificar se era mesmo a Janja, porque há vários vídeos produzidos pelas informações. Artificiais e montagens. Realmente, é ela com um homem chamado Wagner Sabino da Silva, conhecido como MC Dourado, ambos aparecem no vídeo cantando e dançando. No refrão, eles cantam “sal no Bolsonaro”, fazendo referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
E o que quer dizer sal no Bolsonaro? Explico. Por atuar há anos na segurança pública no Rio de Janeiro já conhecia a expressão como executar, matar, eliminar uma pessoa. E a pessoa mencionada na letra da música é o Jair Bolsonaro, conforme sabemos. Ainda na letra da música há menção à palavra amor, em um verso a dupla canta que o amor venceu. Como falar em amor e, ao mesmo tempo, na mesma música, falar em matar alguém? Crime mais grave que se pode cometer.
É evidente que algumas pessoas vão discordar, vão dizer que não é esse o significado da
expressão, sal no Bolsonaro, até para manter as incongruências habituais. O Brasil tem vários estados, municípios, bairros, é possível que se encontrem outros sentidos para tal expressão em algumas das localidades brasileiras, porém basta uma pesquisa na internet para descobrir o termo como usado por bandidos do Rio de Janeiro, tendo o sentido de matar alguém, conforme já dito acima.

Esse vídeo foi produzido em outubro de 2022 e depois das manifestações de Domingo, 16/03/2025, em Copacabana, voltou a circular nas redes sociais. Cabe aqui lembrar que, em 2018, houve um atentado contra a vida de Jair Bolsonaro e que, até hoje, não foram totalmente esclarecidas todas as circunstâncias e eventuais outros envolvidos na tentativa de homicídio.
Então, estamos aqui diante de dois fatos, não são versões. Primeiro fato: a tentativa de
homicídio contra Jair Bolsonaro. Segundo fato: a expressão sal no Bolsonaro na gíria de bandidos do Rio de Janeiro significa matar Bolsonaro. Eu sei, tem teoria da conspiração defendendo que não houve atentado contra o Bolsonaro.
Não sou só eu que sei o significado da expressão, muitas pessoas sabem e é possível que algum outro bandido (já houve um) se sinta incentivado a tentar tirar a vida do Bolsonaro, tem até musiquinha e dancinha agora em vídeo. Olha que legal, algum bandido pode pensar.
Mesmo que não haja outro bandido para uma nova tentativa de homicídio, a simples execução do vídeo da Janja, com o MC Dourado, poderia ser supostamente interpretada como uma apologia ao crime, que é considerado crime. Mas até mesmo se se interprete que não há o crime de apologia ao crime, por ausência de dolo ou por ser difícil provar-se o dolo, pode-se entender que no mínimo seria uma má conduta social, péssima conduta social, executar e manter-se esse vídeo circulando, tendo em vista que alguém pode ser influenciado a cometer um atentado contra a vida de outra pessoa.
Que fique claro aqui que não se trata de censura, não estou defendendo retirar das plataformas forçadamente o tal vídeo. Sendo que, nesse caso, eu poderia defender a retirada forçosa, primeiro com fortes argumentos jurídicos, como a ponderação dos interesses que vige na sociedade e no mundo do Direito e, nessa hipótese, entre um potencial risco para a vida de alguém e o suposto direito de manter o vídeo, é evidente que o maior bem jurídico existente
que é a vida humana, haveria de prevalecer, afastando-se o risco aumentado.
E ainda, se fossemos discutir o direito de expressão, que está assegurado na Constituição de 88, poder-se-ia dizer que tal direito não poderia prevalecer quando a música do vídeo poderia ser interpretada como crime, por estar fazendo uma apologia ao crime, de forma que o direito de expressão não pode ser invocado para supostamente a pessoa ter “direito” a cometer crime, ou seja, o direito de expressão não serve de escudo para os criminosos cometerem os seus crimes.
Deixando a ciência do Direito de lado, se tal vídeo fosse retirado, com certeza, nenhuma falta faria para a sociedade ou até mesmo para a Janja, porque em sã consciência ninguém pode defender que aquela obra teria potencial para concorrer a algum prêmio, salvo de pior vídeo.
Esclareço que não defendo a judicialização para a retirada do vídeo. O Poder Judiciário está assoberbado de ações e o Bolsonaro conta com seguranças bem preparados da Polícia Federal. Em que pese uma possibilidade de aumento no risco, não seria razoável movimentar o Poder Judiciário. Ajuizar ação seria dar mais relevância e destaque na mídia a quem nem foi eleita, não recebeu votos, deixemos ela de lado, não vamos fazer a vontade dela de aparecer mais.
O objetivo aqui é alertar quem é de bem para o fato de os supostos defensores dos direitos humanos não se importarem em colocar a vida de alguém em risco. Na hipótese de aumentar o risco de quem inclusive já sofreu um atentado, penso que a própria Janja se fosse uma pessoa coerente, deveria providenciar a retirada desse vídeo das plataformas e, apesar de ter errado, não permaneceria no erro e até poderia ganhar alguma visibilidade por um bom ato e alegar que não sabia antes sobre o significado de tal expressão, sal no Bolsonaro, no vocabulário utilizado por bandidos no Rio de Janeiro.